domingo, 19 de setembro de 2010

GALPÃO CRIOULO

Como estamos na Semana Farroupilha vamos falar de um lugar onde nasceram quase todas tradições gaúchas.



Velho Galpão crioulo do pago,
Reminiscência de antanho,
Sala de estar da peonada,
Não sei por que capricho estranho
Nas horas das madrugadas,
Quando o "guarda fogo" esmaece,
Ouço ao longe uma prece
Vinda das asas do vento
E eu, peão sonolento,
Vou avivando o tição:
Evocando antigas lendas
Que acopanharam as contendas
Para a nossa formação.

Recuerdos lá das missões,
Onde as velhas reduções,
Por padres foram implantadas,
Despertando na "indiada",
Idéias de pátria amada...
E arrebatando Cruzadas,
Profetizando já então,
Que o nosso formoso rincão
Já carregava consigo,
Implantada em peito amigo
A ansia de liberdade,
Como hoje até é:
Foi lá que nasceu Sepé
Proclamando esta verdade:
Esta terra tem dono !
E enquanto o galpão durar,
O fogo não há de se apagar
E o povo não ficará em abandono !

E assim, velho galpão,
Refletido na amplidão
Deste céu e desta terra,
Tudo que a verdade encerra,
Dos que por aqui passaram
E muito este pago honraram
Em memoráveis batalhas...
Tendo o pampa por morada,
A terra, uma "china" amada
E a "tricolor"por mortalha !

E, ao te ver hoje em dia,
Quando outra ideologia
Tenta este pago atingir,
Eu começo a sentir
O mais profundo pesar...
E aí me fico a pensar:
"Nenhum progresso do mundo,
Não pode ser tão profundo,
Tentando desmanchar crenças...
E nenhuma desavença
Pode ofuscar o passado...
E tudo que nos foi legado
Com sacrifício e bravura...
Mas nosso velho galpão
Há de manter a tradição
Em toda esta conjuntura.

E as horas se vão passando...
E eu fico aqui recordando
Legados de priscas eras...
E tu, galpão já eras
Refúgio aconchegante,
Procurado no instante
Que o duro cnsaço atingia,
Da faina do fim do dia
De gloriosas campereadas;
E lá estava sempre quente,
Na chaleira sobre a trempe
A água pro chimarrão...
E sempre aceso o tição
Que do fogo é o guardador.
E assim como o gado
Procura ao anoitecer
Um lugar pra se aquecer,
Assim também o gaúcho
Procura seu "parador".

E assim, velho galpão",
Herdeiro da tradição,
Plantado em xucra querência,
Trazes a reminiscência
De causos, trovas e cantigas,
Retratando à moda antiga,
Inumeráveis façanhas,
Guardando nas próprias entranhas,
Pedaços deste Rio Grande,
Que entre a lonjura se expande,
Do litoral ao verde pampa,
Da serra até o Chuí estampa
Belezas e muita emoção...
E eu, tendo a sensação
Na noite que vai passando,
Sonolento vou recordando,
Tudo que o galpão guardou:
A tradição deste pago,
Do minuano o afago
E o fogo que não se apagou !


Manoel josé Braz
Edição de Vittório Emmanuel Benevenutto

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