domingo, 12 de junho de 2011

O TEMPO E AS JABUTICABAS




Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas: as primeiras ele chupou displicente, mas, percebendo que faltam poucas, rói as sementes.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades... Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente mais humana e racional. Gente que saiba rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, tapinhas nas costas, risinhos falsos... Gente que não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e honra, de fato, a sua.
Gente que deseja a serenidade das coisas simples: uma boa música,  o sossego de um lar vazio do supérfluo e cheio de amor e paz! Gente que cuida e preocupa-se com o seu próprio nariz... Quero caminhar perto de pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente, sem fraudes. Já não tenho tempo para perder com pessoas que ainda não acordaram para a vida. Só o essencial faz a vida valer a pena. Basta-me o essencial!
(Markus K.)



Material enviado por "Dr. Freud"

Edição de Vittório Emmanuel Benevenutto

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