segunda-feira, 13 de outubro de 2014

MÃOS DADAS


Não serei o poeta de um mundo caduco,

Também não cantarei o mundo futuro,

Estou preso a vida e olho meus companheiros,

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças,

Entre eles, considero a enorme realidade,

O presente é tão grande, não nos afastemos,

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,

Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins,

Tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

A vida presente.


CARLOS DRUMOND DE ANDRADE

Edição de Vittório Emmanuel Benevenutto


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